Introdução
Abelhas Scaptotrigonas são um dos grupos de abelhas sem ferrão (meliponas) muito valorizados por meliponicultores e entusiastas da conservação no Brasil. Ao longo do texto, você encontrará orientações práticas para implantar e manter um meliponário saudável, além de entender o papel ecológico das Scaptotrigonas na polinização.
O que são Abelhas Scaptotrigonas?
As Scaptotrigonas pertencem à tribo Meliponini, dentro da família Apidae. São abelhas sem ferrão nativas das regiões tropicais e subtropicais das Américas, com destaque para diversas espécies encontradas no Brasil, como Scaptotrigona postica, S. depilis, S. bipunctata e S. xanthotricha. Caracterizam-se por:

- Tamanho Médio:
Colmeias compactas, mas bastante populosas com população que varia de centenas a milhares de indivíduos. - Comportamento Societário:
São abelhas nativas bastante defensivas. O manejo, dependendo do tamanho da colônia, requer proteção. - Produção de Mel de Alta Qualidade:
Apresenta sabor suave, baixo teor de água e propriedades medicinais reconhecidas. São excelentes produtoras de mel.
A presença de Scaptotrigonas em ecossistemas naturais e agrícolas é fundamental, pois muitas plantas nativas dependem exclusivamente dessas abelhas para polinização eficiente.
Principais Espécies de Scaptotrigonas no Brasil
- Scaptotrigona postica – Abelhas Mandaguari Preta
Uma das mais conhecidas, famosa pela produção de mel de excelente sabor e cerume de alta qualidade. - Scaptotrigona depilis – Abelha Canudo
Adaptável a diversas regiões, valorizada por sua rusticidade e resistência a variações de clima. - Scaptotrigona bipunctata – Abelha Tubuna
Presente principalmente no Sudeste, reconhecida pela facilidade de manejo em colmeias artificiais. - Scaptotrigona xanthotricha – Abelha Mandaguari Amarela
Encontrada em ambientes menos perturbados, apresenta bom rendimento de mel e forte mobilidade para flores silvestres.

Cada espécie pode apresentar diferenças sutis no comportamento de coleta de néctar, escolha de ninhos e ciclo reprodutivo. Na hora de escolher a espécie para o meliponário, leve em conta fatores como temperatura local, disponibilidade de flora melífera e experiência prévia de manejo.
Habitat e Distribuição
As abelhas Scaptotrigonas ocorrem em ambientes de Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e, em menor escala, na Amazônia oriental. Costumam aninhar em ocos de árvores, cavidades em rochas ou colmeias artificiais (caixas de madeira(caixas INPA) ou caixas de polietileno).
- Clima:
Preferem regiões com temperatura entre 20 °C e 30 °C e umidade relativa alta (acima de 60 %). - Flora Melífera:
Plantas nativas como goiabeira, pitangueira, ipês, aroeira pimenteira, manacá da serra entre outras. - Limites Geográficos:
Embora a maior diversidade esteja no Sudeste e Centro-Oeste, registros de Scaptotrigonas já foram observados no Sul e regiões Norte e Nordeste do Brasil, adaptando-se a diferentes biomas, desde que haja oferta contínua de flora.
Importância para a Polinização
As Scaptotrigonas desempenham papel-chave na polinização de plantas nativas e cultivadas:
- Alcance para Flores Pequenas
A morfologia de língua longa permite acessar néctar em flores de formatos estreitos. - Visita a Diversas Espécies Vegetais
Atuam em fruteiras (goiabeira, pitangueira), hortaliças (tomate, pimentão) e plantas medicinais. - Polinização Eficiente
Estudos comprovam que, em alguns cultivos, a taxa de frutificação pode aumentar até 30% quando comparada a outras abelhas silvestres, graças ao comportamento de “zigue-zague” obrigatório, que garante deposição mais eficiente de pólen.
Além de melhorar a produtividade agrícola, essas abelhas mantêm corredores ecológicos, favorecendo a sustentabilidade da paisagem rural.
Técnicas de Criação de Scaptotrigonas
Estrutura do Meliponário
- Localização:
Área bem ventilada, com sombra parcial e sem ventos fortes. Se possível, próximo a fontes de água e flora diversificada. - Colmeias Artificiais:
Caixas de madeira de eucalipto ou polietileno, projetadas com entrada estreita (3–4 cm) e divisões internas moduláveis(caixas INPA). - Posicionamento:
Orientar a entrada levemente para o leste, garantindo exposição ao nascer do sol, mas protegido do sol intenso do meio-dia.
Manejo e Alimentação
- Inspeções Periódicas:
A cada 30–45 dias, verificar presença de pragas (forídeos, mosca soldado) e estado de desenvolvimento da colônia (quantidade de potes de pólen, mel e discos de cria). - Suplementação Alimentar:
Em períodos de escassez de floradas (seca ou inverno), oferecer alimentação suplementar para as abelhas - Controle de Pragas:
Prevenção contra ataque de formigas e forídeos.
Cuidados Reprodutivos
- Divisão de Colmeias (Enxameação Controlada):
Realizada quando a colônia atinge, maturidade, separando parte de discos de cria com realeira e alimentação.

Produtos das Abelhas Scaptotrigonas
1. Mel Silvestre
- Baixo teor de água (< 20 %)
- Propriedades antioxidantes e antimicrobianas
- Mercado crescente para produtos gourmet e terapêuticos
2. Própolis
- Usado em xaropes, cápsulas e cosméticos
- Atividade cicatrizante e anti-inflamatória
- Produção menor que em Apis mellifera, mas de excelente qualidade
3. Cerume
- Mistura de cera e própolis, utilizado para vedar as colmeias
- Potencial em artesanato e fabricação de velas aromáticas
Conservação e Desafios
- Perda de Habitat:
Desmatamento e monoculturas reduzem áreas de flora nativa. - Agrotóxicos:
Mesmo em pequenas quantidades, inseticidas podem dizimar populações locais de abelhas sem ferrão. - Falta de Conhecimento Local:
Muitos meliponicultores ainda desconhecem as necessidades específicas de cada espécie de Scaptotrigonas, levando a manejos inadequados.
É fundamental investir em projetos de educação ambiental, reflorestamento com espécies melíferas e regulamentação de áreas de preservação para fortalecer populações naturais.
Conclusão
As abelhas Scaptotrigonas representam não apenas um tesouro biológico, mas também uma excelente oportunidade de diversificar atividades agrícolas e apícolas. Desde a escolha da espécie e instalação do meliponário até a obtenção de mel e própolis de alta qualidade, cada etapa requer conhecimento técnico e práticas sustentáveis. Meliponicultores podem compartilhar saberes, atrair mais interessados e contribuir para a conservação dessas abelhas nativas. Empreenda esforços para manter sua colônia saudável, incentive o reflorestamento de plantas nativas e potencialize o impacto positivo das Scaptotrigonas na polinização e na economia local.
As Scaptotrigonas são um gênero de abelhas sem ferrão (meliponíneos) encontradas em várias regiões do Brasil. Elas se destacam pela sua organização social e importância ecológica na polinização de plantas nativas.
Cada espécie possui características únicas como cor, tamanho e formato da entrada do ninho. As mais comuns no Brasil incluem Scaptotrigona depilis (Tubuna) e Scaptotrigona bipunctata.
Não possuem ferrão funcional, mas podem “morder” levemente com as mandíbulas para se defender. Ainda assim, são consideradas inofensivas para humanos.
Essas abelhas são encontradas principalmente em regiões tropicais e subtropicais, como a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica. Elas constroem seus ninhos em ocos de árvores, muros e até caixas de madeira adaptadas.
As Scaptotrigonas têm comportamento mais defensivo, produzem mel com aroma forte e constroem estruturas cerosas diferenciadas nos ninhos. São distintas de outras espécies como a Jataí ou a Mandaçaia.
Sim, o mel produzido por essas abelhas é comestível e altamente valorizado por suas propriedades medicinais, embora seu sabor seja mais ácido ou fermentado que o mel de Apis mellifera.
Sim! Com o manejo adequado, caixas apropriadas e conhecimento sobre a espécie, é totalmente viável manter colônias de Scaptotrigonas em áreas urbanas e rurais.